Maneirismo foi um estilo e um movimento artístico que se desenvolveu na Europa aproximadamente entre 1515 e 1600 como uma revisão dos valores clássicos e naturalistas prestigiados pelo Humanismo renascentista e cristalizados na Alta Renascença. O Maneirismo é mais estudado em suas manifestações na pintura, escultura e arquitectura da Itália, onde se originou, mas teve impacto também sobre as outras artes e influenciou a cultura de praticamente todas as nações europeias, deixando traços até nas suas colónias da América e no Oriente. Tem um perfil de difícil definição, mas em linhas gerais caracterizou-se pela deliberada sofisticação intelectualista, pela valorização da originalidade e das interpretações individuais, pelo dinamismo e complexidade de suas formas, e pelo artificialismo no tratamento dos seus temas, a fim de se conseguir maior emoção, elegância, poder ou tensão. É marcado pela contradição e o conflito e assumiu na vasta área em que se manifestou variadas feições.
O período é dividido em duas (ou três, conforme o autor) grandes etapas principais. A primeira vai de c. 1515 a c. 1530 (ou segundo outros até c. 1550), aparece primeiro em Florença, e logo em Roma, e é chamada de fase anticlássico do Maneirismo. Seus principais representantes haviam amadurecido sob a influência da Alta Renascença, e a obra que desenvolveram forma por isso um contraste muito nítido em relação ao classicismo anterior.
Esta primeira fase também é marcada pelo êxodo de artistas de Roma após o saque de 1527, fortalecendo por toda a Europa a influência do Renascimento italiano, a qual já se notava em vários pontos desde o século XV. Fundaram novos centros regionais e estimularam o trabalho de maior número de artistas. Em grande parte desses países o elemento italiano vai encontrar forte tradição tardo-gótica ainda viva, dando origem a singulares estilos híbridos, que definem o Maneirismo nesses locais.
No período seguinte, às vezes chamado de Alto Maneirismo, o estilo já era dominante em toda a Europa - embora não fosse o único. Se acentua o intelectualismo e a virtuosidade como elementos essenciais à boa arte, e a originalidade e maneira pessoais encontram dentro da arte profana um terreno livre para pesquisas ainda mais extravagantes. O período coincide, porém, com as reformas doutrinais do Concílio de Trento, como já foi mencionado antes, introduzindo alterações drásticas no modo de representação sacra.
O declínio do Maneirismo na Itália começa por volta de 1580 ou 1590, com uma recuperação dos valores do classicismo naturalista Rafaelesco, como se nota na obra de Annibale Carracci e na fase inicial de Caravaggio, enquanto que o estilo progride em outros países até bem dentro do século XVII, com centros da Renascença tardia se desenvolvendo em especial na França, Países Baixos e na Alemanha, até que se funde gradualmente no Barroco e se extingue em todas as partes.
Pintura
Talvez a mudança mais dramática introduzida pelo Maneirismo na pintura seja a transformação da noção de espaço. O Renascimento conseguiu construir a representação visual do espaço de modo notavelmente homogêneo, coerente e lógico, baseando-se na perspectiva clássica, colocando os personagens contra um cenário uniforme e contínuo e de acordo com uma hierarquia de proporções que simulava com grande sucesso o recuo gradual do primeiro plano para o horizonte ao fundo. O Maneirismo rompe essa unidade com diferentes pontos de vista coexistindo em um mesmo quadro e com a ausência de uma hierarquia lógica nas proporções relativas das figuras entre si, onde muitas vezes a cena principal é posta à distância e elementos secundários são privilegiados no primeiro plano. Assim as relações naturalistas são abolidas e o resultado é uma atmosfera de sonho e irrealidade, onde os relacionamentos formais e temáticos são arbitrários.
O estilo se manifesta com figuras com proporções alongadas e em posições dinâmicas, contorcidas ou em escorço, em grupos cheios de movimento e tensão, muitas vezes de paralelo impossível com a realidade, e daí seu caráter ser considerado artificia lista e intelectualista, em oposição à gravitas tão prezada no Alto Renascimento. Nota-se forte tendência ao horror vacui, uma aversão ao vazio, cercando a cena principal com uma profusão de elementos decorativos que adquirem grande importância por si mesmos. Também há um senso de experimentalismo no tratamento de temas tradicionais, com a intensificação do drama, e fazendo uso de muitas referências literárias e citações visuais de outros autores, o que tornava as obras de difícil compreensão pelo espectador inculto.
terça-feira, 20 de abril de 2010
Subscrever:
Mensagens (Atom)